Por Antonio Maia e Fernando Hax
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2013), há 30 anos a avicultura brasileira vem crescendo, e seu foco é a avicultura de corte dentro de um sistema integrado e fortemente industrializado, que tornou o país o terceiro produtor mundial e líder em exportação, exportando essa carne para 142 países. Os estados do Paraná e Rio Grande do Sul são os maiores produtores e a região Centro-Oeste, por ser grande produtora de grãos, vem crescendo no setor e recebendo novos investimentos.
Por outro lado, a Avicultura Colonial é uma alternativa que deve ser incentivada e explorada pelos agricultores familiares. De acordo com Zabaleta (2011), coordenador do Projeto de Avicultura Colonial da Embrapa Clima Temperado, trata-se além de garantir uma diversificação de renda, de atender a um mercado desassistido que quer e pode consumir um produto de produção e preço diferenciados.
Zabaleta (2012) define a Avicultura Colonial como uma importante atividade agropecuária que pode se apresentar como uma grande alternativa para a diversificação da produção dos agricultores familiares, especialmente em regiões como a de Canguçu, que possui produção centrada no monocultivo do fumo. Com uma atividade focada na produção aves (com foco em carne e/ou ovos) se observa grandes vantagens para o agricultor, conforme apontadas abaixo:
A Avicultura Colonial avança na sustentabilidade econômica, social e ambiental, apresentando uma produção que pode verdadeiramente integrar uma propriedade, reduzir a utilização de agrotóxicos e medicamentos preventivos, contribuindo para o abastecimento dos mercados urbanos, de preferência atendendo também a demanda de consumidores que buscam produtos com menor teor ou ausência de resíduos de agrotóxicos.
Esses dois sistemas de produção de aves e ovos existem e é fonte de renda para inúmeras famílias no RS, com a predominância do sistema integrado sobre o colonial. Em uma região considerada pouco desenvolvidas do Rio Grande do Sul (BRASIL, 2009), a Avicultura Colonial pode ser uma alternativa de renda e subsistência para famílias em condição de vulnerabilidade social ou em assentamentos da reforma agrária, somado seu potencial para conversão em um sistema de base ecológica.
Para atuar nesta realidade a ETEC conta com um Projeto Didático-Experimental em Avicultura Colonial em parceria com a Embrapa Clima Temperado, voltado a que a produção de ovos coloniais. O projeto conta hoje a sua disposição três aviários coloniais com capacidades para 1200 aves, uma fábrica de rações disponível para preparo de alimentos com os nutrientes necessários as aves, e uma Sala de Classificação de Ovos com inspeção sanitária realizada pelo Serviço Municipal (SIM). Esta estrutura demonstra a possibilidade de aprofundar o conhecimento do aluno nesta área especifica com largo potencial de atuação na região.
Passados três anos desde sua implantação, o Projeto de Avicultura Colonial contribui significativamente para o desenvolvimento de um modelo alternativo a produção de frangos. Um modelo mais sustentável e que permite a inclusão de agricultores em vulnerabilidade social, conciliando o bem-estar animal e a geração de renda, que constituem os grandes méritos deste sistema de produção. Além de produzir alimentos com qualidades organolépticas e nutricionais superiores.
No Projeto de Avicultura Colonial da ETEC os alunos acompanham, na prática, todo o processo de produção de uma granja avícola de postura. Desde a formulação da ração a comercialização dos ovos, dando atenção ao manejo das aves e participando da inspeção e do controle de qualidade.
O projeto abrange a produção das aves em aviários adaptados ao Sistema Colonial, a ração é produzida e misturada pela escola. Os ovos são inspecionados pelo Serviço de Inspeção Veterinária de Canguçu, podendo ser comercializado no município, em mercados e na Feira Agroecológica, onde se encontra um estande da escola. Em torno deste projeto, reuniram-se, além da disciplina de Avicultura, a Administração Rural, Nutrição Animal, Prática Profissional, Seminário Integrado e Zootecnia, trabalhando de forma interdisciplinar. No futuro, as demais disciplinas da Educação Profissional como o caso das Culturas Regionais e Forrageiras e do Ensino Médio Politécnico devem participar do projeto, como por exemplo, a Biologia, que poderá envolver conteúdos de Bioquímica, Genética e Zoologia.
Atualmente o Projeto de Avicultura Colonial se tornou um laboratório de pesquisa e experimentação para professores e alunos da ETEC. Ele é um dos pilares nos quais a disciplina de Prática Profissional se apoia, no intuito de proporcionar uma formação profissional através de um espaço pedagógico interdisciplinar.
Além da presença regular dos alunos, professores e funcionários na Área de Produção e Experimentos, o projeto tem recebido visitas constantes de agricultores, técnicos, extensionistas, pesquisadores, além de alunos e professores de outras escolas municipais e estaduais, de Institutos Federais e de Universidades, com o intuito de aprender mais sobre a produção de ovos coloniais. Tornou-se mais do que um ambiente didático, hoje é reconhecido como um espaço de validação de tecnologias alternativas, mais sustentáveis nos quais se exercita a busca por solução a problemas reais que acometem a avicultura.
Atualmente a escola conta com três aviários, dois antigos, utilizados previamente para avicultura de corte e um novo, adaptado com o apoio técnico do Programa de Avicultura Colonial. Nesse novo Aviário Colonial, foram alojadas aves da linhagem Embrapa 051, enquanto que nos demais, utilizou-se a raça Isa Brown. Os aviários mais antigos foram adaptados para a utilização por aves poedeiras, todas foram colocadas sobre cama de palha, com acesso a ninhos e piquetes sob o sol. As aves passaram a receber rações sem antibióticos ou promotores de crescimento. A debicagem também deixou de ser utilizada.
Com recursos limitados e que devem ser devidamente distribuídos entre todas as ações do Curso Técnico em Agricultura da ETEC, tornou-se evidente a inviabilidade de construção de uma nova instalação para essa finalidade. Assim sendo, decidiu-se adaptar uma instalação da Área Experimental da ETEC, próxima dos Aviários das Poedeiras para essa finalidade.
O prédio foi reformado para comportar quatro salas com as seguintes características:
A reforma do prédio foi concluída e inaugurada no dia 25 de outubro de 2011. É necessário destacar o empenho da direção, alunos, professores e funcionários, não apenas na inauguração, mas na operacionalização desta instalação.
A partir da inauguração passou-se a trabalhar diretamente na classificação dos ovos. Nos aviários, alunos, professores e funcionários da escola se uniram para produzir os ovos que seriam processados pela Sala de Classificação. Os ovos são recebidos na recepção, onde são pré-higienizados. Posteriormente Os técnicos da ETEC e da Secretária de Agricultura, em especial da Inspetoria Veterinária, ficaram responsáveis respectivamente pela classificação e inspeção propriamente ditas.
Com a a regularização da situação sanitária a ETEC ampliou sua participação, seja fornecendo para o mercado local ou comercialização na feira de agricultores agroecológicos do município. Para este fim foramd esenvolvidos dois modelos de estojos, sendo o atual fruto de um projeto de design.
A adequação sanitária é um desafio para os agricultores familiares, principalmente pelo investimento necessário, que consideram extremamente elevados. Hoje ainda se encontram no comércio, ovos sem inspeção sanitária, representando risco para o consumidor e produtor, enquanto o primeiro desconhece a procedência e a segurança do produto, o segundo pode ter sua mercadoria apreendida e destruída.
Por outro lado, os ovos inspecionados significam uma ampliação de mercado para o agricultor, que pode comercializar diretamente esse produto com mercados locais, utilizando seu bloco de produtor (modelo 15), uma vez que os ovos diferem de outros produtos de origem animal neste aspecto. Através de iniciativas como a desenvolvida pela ETEC abre-se o precedente para que mais agricultores familiares produzam ovos devidamente inspecionados para mercados municipais.
Desenvolvido pela Embrapa Clima Temperado (CPACT) juntamente com o Instituto Federal Sul-rio-grandense (IF-Sul/CAVG) e com a Escola Técnica Estadual Canguçu desenvolve o Programa de Avicultura Colonial, que trabalha em parceiria com a EMATER na busca de auferir renda de forma sustentável a agricultores familiares da região, em uma perspectiva de inclusão social e econômica com a preocupação com a sustentabilidade ambiental da produção.
Links:
KLUG, J.; GENTILINI, F. RUTZ, F. ANCIUTI, M. Poedeiras: Produção. Pelotas: Ed. Universitária PREC/UFPEL. 2012. 135p.
RIO GRANDE DO SUL – Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul. Proposta pedagógica para o ensino médio politécnico e educação profissional integrada ao ensino médio - 2011-2014. Novembro de 2011.
SALES, M. Criação de Galinhas em Sistemas Agroecológicos. Vitória/ES: Incaper, 2005. 284p.
ZABALETA, J.P. Projeto de Avicultura Colonial. Pelota/RSs: Embrapa Clima Temperado. Disponível: <www.cpact.embrapa.br/programas_projetos/projetos/avicultura/>. Acessado em: 24 nov. 2014.